Quem são as startups que desbravam o mercado de longevidade no Brasil? Conheça o mapeamento inédito da 1ª Chamada de Longevidade — e as oportunidades do mercado maduro.
A iniciativa, realizada pela organização global Aging2.0 no dia 18 de abril de 2018 apresentou um panorama das startups do ecossistema da longevidade no Brasil com soluções inovadoras para os 60+. E mais: Painel com especialistas, revelação das 10 startups finalistas e o Pitch de cada um dos 3 vencedores da noite.
Qual é o futuro da longevidade?
Já parou para pensar como você vai estar aos 90 anos? O questionamento, feito pelo membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, William Fiori, em debate sobre mercado do envelhecimento, acendeu a discussão sobre o futuro da longevidade no Brasil.
O painel foi uma das muitas surpresas do evento realizado pela Aging2.0 que anunciou, no último dia 18 de abril, os resultados da 1ª Chamada de Negócios da Longevidade. O embaixador da ONG no país, Sérgio Duque Estrada conduziu o encontro que reuniu, no Civi-co, empreendedores, influenciadores, founders, investidores, aceleradoras e estudiosos do mercado prateado.
Após apresentação inicial, a diretora do Aging2.0 e cofundadora do Hype60+ Layla Vallias subiu ao palco para apresentar o panorama dos negócios do envelhecimento no país. Os dados, compilados entre janeiro e fevereiro de 2018, revelaram a potencialidade do consumidor maduro.
A população idosa soma, hoje, 30 milhões de pessoas, ou seja, 15% de todo o país. Os 60+ representam 20% do consumo no Brasil e respondem por R$1 trilhão de renda por ano. A projeção do IBGE de chegar a 30 milhões de pessoas na terceira idade era para 2025, mas o marco foi alcançado já no início de 2018.
“A longevidade é minha paixão e tema de quase todas as minhas conversas. A ideia do mapeamento surgiu de uma dor muito real, pois a gente tem muito poucos dados sobre o setor. Envelhecer não é nenhuma novidade e falar sobre isso é muito importante. Temos dados super expressivos, mas 60% dos idosos reclamam da falta de produtos e serviços adequados à sua idade. A Chamada é um cadastro colaborativo que veio para gerar esse panorama e dar holofote para os empreendedores super corajosos que estão desbravando um mercado super novo”, ressalta.
Quem são as empresas que olham para o mercado sênior?
Foram 141 iniciativas inscritas, sendo 80 negócios com fins lucrativos. Empresas jovens, com menos de 5 anos e de 1 a 2 funcionários. No recorte, São Paulo concentrou 59% das empresas com foco na economia prateada. Contudo, estados como Pernambuco (4%), Minas Gerais (14%) e Rio Grande do Sul (6%) também possuem representantes desenvolvendo soluções para o envelhecimento.
Ainda de acordo com a análise, quase 40% dos empreendedores tem mais de 50 anos. São pessoas criando soluções para dores próprias e de pessoas próximas. A maior parte dos negócios que já passaram da fase da ideia, estão no MVP ou na organização e 20% já foram acelerados, isso prova que o mercado está sendo reconhecido no ecossistema do empreendedorismo.
Por ser muito embrionário, 40% ainda não estão faturando, mas há exceções. Outro dado interessante, apontado por Layla Vallias, é referente ao uso da tecnologia. “Existe um tabu que o maduro não está na internet. E identificamos que há muitas soluções tecnológicas sendo aplicadas, sendo Big Data, Internet das Coisas e Sensores as que mais aparecem”, conclui.
O Aging2.0 segmentou quais as necessidades e grandes desafios do envelhecimento. Ao contrário do que grande parte da população imagina, o grupo de idosos não é uma massa homogênea. As necessidades de uma pessoa de 60 anos é muito diferente de quem tem 80. E por isso os desafios também são diversos:
- Engajamento e propósito
- Gestão financeira
- Mobilidade e Movimento
- Estilo de Vida
- Cuidado
- Gestão do Cuidado
- Saúde Mental
- Fim da Vida
Seguindo uma sugestão da Pipe.social foram cruzados os dados dos inscritos na Chamada com a análise da Aging2.0 Global. Como resultado, foi verificado que Engajamento e Propósito e Gestão do Cuidado concentram a maior parte dos negócios. Mas ainda há muitas outras oportunidades que não estão sendo atendidas e geram oportunidades.
Ao fim da apresentação do panorama da longevidade foi chegada a grande hora do público que lotou o auditório do Civi-co conhecer as empresas finalistas e as selecionadas para receber aceleração e mentoria.
Dentre os critérios estabelecidos, as escolhidas precisavam resolver um problema real e os desejos dos 60+, ser escalável a partir do uso da tecnologia, ser sustentável econômica e financeiramente, ter uma solução inédita e comprovada e seguir os pilares da Aging2.0 (Cuidado, Engajamento & Propósito, Estilo de Vida, Gestão do Cuidado, Gestão Financeira, Mobilidade & Movimento, Saúde Mental e Fim da Vida).
- Cori
- Farol VR
- Sixty Plus Care
- FisioAtual
- Fisiocloud
- Maturijobs
- +60Saúde
- Plug&Care
- MedLogic
- Morar.com.vc
E as três grandes iniciativas vencedoras foram: EuVô, Gero360 e ISGame. Os representantes tiveram 4 minutos, cada, para apresentar o pitch para o público.
O EuVô, representado pelos irmãos Vitória e Gabriel Abdelnur, foi a primeira falar. A empresa, prestadora de serviços de mobilidade para o público sênior, surgiu a partir de um problema de saúde da mãe dos empreendedores. A necessidade familiar logo se transformou em oportunidade de negócio. Os irmãos decidiram criar um serviço que oferecesse maior autonomia e qualidade de vida para os maduros se deslocarem, com motoristas especialmente treinados. Além do serviço de transporte, eles também oferecem a opção de acompanhamento para as atividades e compromissos do dia a dia. A EuVô atua em São Carlos, interior de São Paulo e até dezembro pretende expandir para Ribeirão Preto, Araraquara e Rio Claro.
Em seguida, subiu ao palco Leônidas Porto da Gero360, uma startup de tecnologia que desenvolve soluções tanto para o segmento B2C quanto para o B2B. A motivação inicial foi a dor de um filho preocupado em acompanhar a rotina de cuidados de sua mãe. Por meio do aplicativo é possível organizar e acompanhar à distância dados essenciais da rotina do idoso: horário de atividades, medicamentos, informações de saúde, medições vitais, e ainda conectando-o com quem desejar (família, cuidadores e amigos). No B2B, a inovação fica por conta de sistema para gerenciamento de estoques de medicamentos de ILPIs e assemelhados.
Fábio Ota, da ISGame encerrou os pitches da noite. De acordo com o empreendedor, mais de 2 milhões de brasileiros sofrem com Alzheimer e os gastos mensais com cuidadores giram em torno de R$ 5.000. Como solução foi criada uma escola de games com metodologia inovadora que ensina pessoas com mais de 50 anos a jogar e a programar os seus próprios games, estimulando o raciocínio lógico, memória, criatividade e integração intergeracional. Com apoio da FAPESP foi comprovado que o programa auxilia na melhoria das habilidades cognitivas dos idosos.
As três empresas vencedoras receberão 1 ou 2 horas de mentorias com cada um dos grandes nomes do ecossistema empreendedor e especialistas do setor: Alvaro Machado (COO da Startup Farm); Arthur Braga (advogado e sócio da BNZ Advogados); Beatriz Gutierrez (doutora e professora de gerontologia da USP); Egídio Dorea (doutor, professor de medicina e diretor da UATI – Universidade Aberta da Terceira Idade-USP), Fernando Cembranelli (médico e criador do HIHUB); Mariana Fonseca (cofundadora da Pipe.Social); Renato Veloso (diretor de novos negócios Dr. Consulta); Ricardo Podval (CEO do Civi-co); Sandra Gomes (coordenadora do Idoso da Prefeitura de SP), Romeo Busarello (diretor de marketing da Tecnisa) e Sérgio Duque Estrada (embaixador do Aging2.0 São Paulo).
Os destaques do evento
Para debater as perspectivas e futuro da economia prateada foram convidados dois painelistas: William Fiori, especialista no mercado sênior e membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, e o médico e diretor de Desenvolvimento Institucional do ILC, Egídio Dorea.
“Temos, hoje mais pessoas com mais de 60 anos vivas, do que o número total de pessoas que tiveram mais de 60 na história da humanidade.”, explicou Egídio Dorea.
O envelhecimento é único e cada um passa por essa fase da vida de maneira singular. O professor Egídio Dorea esclarece que a evolução da longevidade e o impacto desse fenômeno social são refletidos em números. “Temos, hoje mais pessoas acima de 60 anos, do que o número total de pessoas que já tiveram mais de 60 na história da humanidade. Isso oferece uma série de oportunidade e desafios para os empreendedores que precisam encarar toda essa população de acordo com suas particularidades e singularidades”, afirma.
Para aquecer o debate, o público interagiu com os especialistas encaminhando alguns questionamentos. O primeiro deles foi quais as maiores tendências quando se fala em longevidade?
A saúde foi apontada por Willians Fiori como uma das principais tendências e esse é um desafio presente também em países desenvolvidos, como os Estados Unidos. “Falar de envelhecimento não é sexy, não gera engajamento para as empresas, mas do ponto de vista econômico é um grande negócio. No entanto, é preciso entender as questões do envelhecimento e ter paixão pelo tema”, conclui.
Egidio Dórea esclarece que é muito difícil envelhecer sem ter doença, mas é importante ter controle e cuidado. “A cognição vai ser o grande drama daqui para frente. Se vivermos até os 90 ou 100 anos é muito provável ser acometido por algum tipo de demência. No Reino Unido, ela já ultrapassa as doenças cardiovasculares como causa de morte”, revela. Uma forma de prevenir é deixar o cérebro sempre ativo, por meio de jogos, lazer, tendo condições de mobilidade, de exercitar suas atividades, por exemplo. Empresas como Plug&Care, Gero360 e ISGame já entenderam isso e buscam soluções para atender a essa demanda.
Provocativo, William Fiori fez uma série de perguntas para a platéia que acompanhava atenta às informações e novidades trazidas pelos especialistas.
Quantos filhos tiveram seus avós? E os seus pais? Agora quantos filhos vocês têm ou pretendem ter?
Segundo Fiori, “a taxa de natalidade mudou e mudou na nossa família, na nossa vida. É muito importante ter essa percepção e entender essa transformação. O envelhecimento tem três tópicos essenciais: impacto, desafios e oportunidades. Mas o assunto ainda é marginalizado pela mídia e publicidade.”
O debate teve espaço ainda para abordar a questão do ageismo, um preconceito aceito socialmente e internalizado na população. “Existe uma cultura intrínseca inserida da criação de estereótipos falsos de um grupo de pessoas por idade. É aceito que a pessoa chegue aos 60 anos e seja retirado das atividades de trabalho por conta da idade, independente de suas habilidades e capacidade ativa de exercer a função. O preconceito de que a velhice é a pior desgraça que pode acontecer num homem, precisa acabar. Nós próprios somos preconceituosos com os velhos, nos afastamos deles achando que vamos ser diferentes”, ressalta Egídio.
A velocidade do envelhecimento é maior que a nossa capacidade de pensar nela. Como você se imagina aos 90 anos?
A pergunta abriu mais uma reflexão, pois segundo os especialistas em longevidade esse é um assunto que os jovens não costumam pensar, por temer chegar a velhice. A lição fica por conta do Egídio Dorea: “Viver é muito bom. A tendência é que todos devem envelhecer e viver mais. O importante é chegar lá com qualidade de vida. Temos que falar disso, pois o envelhecimento é uma das poucas certezas que temos. Não sabemos quem será presidente no Brasil, se o Donald Trump vai sofrer impeachment, mas temos a certeza que o mundo envelhecerá.”
Ao fim do debate, Ricardo podval, CEO do Civi-co e um dos apoiadores da Chamada, surpreendeu a todos com mais um prêmio para as empresas finalistas e selecionadas. No coworking haverá uma desk disponível para que elas possam trabalhar e desenvolver suas empresas, como parte do projeto social “adote uma startup”.
A Chamada teve correalização do Hype60+, consultoria de marketing para o público sênior, e da Ativen – Envelhecimento Ativo, mentoria e consultoria nacional focada exclusivamente em projetos destinados à terceira idade. Além disso, contou com o apoio da Pipe.Social, ILC, Civi-Co e patrocínio dr.consulta e Naara Senior Living.
O evento foi o primeiro passo de uma série de ações previstas pelo Aging2.0 São Paulo para o fomento do mercado da longevidade e protagonismo dos seniores.